Dois jovens se encontram no corredor do colégio e um comenta com o outro: – ‘Rapaz, neste feriadão eu vou curtir todas, vou chegar na quarta só o pó’; e o outro acrescenta: – ‘Afinal é por isso que ela se chama Quarta-feira de Cinzas!’
Será que realmente é este o sentido da Quarta-feira de Cinzas? Será que é para depois de ter “aproveitado todas” no feriadão, chegarmos ao dia depois da terça-feira, a ponto de não termos mais força? Esgotados por termos buscado a qualquer custo um prazer egoísta? Penso que nem preciso dar a resposta a essas perguntas.
Será que realmente é este o sentido da Quarta-feira de Cinzas? Será que é para depois de ter “aproveitado todas” no feriadão, chegarmos ao dia depois da terça-feira, a ponto de não termos mais força? Esgotados por termos buscado a qualquer custo um prazer egoísta? Penso que nem preciso dar a resposta a essas perguntas.
A Quarta-feira de Cinzas, dia de preceito (aqui recorro ao meu amigo dicionário para traduzir o significado deste termo – aquilo que se recomenda praticar, regra ou norma), é um dia em que todo cristão católico, batizado, deve participar da solene Liturgia da Cinzas. Esta celebração marca a abertura da Quaresma, tempo privilegiado de conversão e preparação para a Páscoa do Senhor.
A liturgia da Santa Missa desse dia possui algumas particularidades próprias como: a omissão do ato penitencial, que é substituído pela imposição das cinzas; o “Glória” e o “Aleluia” não são cantados. Porém, o fator marcante e que remonta à tradição da Igreja é a bênção e a distribuição das cinzas, acompanhadas das seguintes palavras: “Convertei-vos e crede no Evangelho” ou então: “Lembra-te que és pó, e ao pó hás de voltar”.
As cinzas, desde o Antigo Testamento, possuem um sinal de penitência. Podemos perceber esta realidade na famosa passagem de Jonas, na qual, ao percorrer Nínive, e profetizar aquilo que o Senhor faria com a cidade num prazo de quarenta dias, a cidade então se converte a Deus, proclama um grande jejum a ponto de o próprio rei se vestir de saco e sentar-se sobre as cinzas (cf. Jn 3, 4-6). Já na Antiguidade, quando as penitências deveriam ser feitas no período quaresmal e duravam vários dias, os penitentes eram admitidos à penitência pública oficial, celebrava-se no início desse tempo [Quaresma], na Quarta-feira de Cinzas, a imposição das cinzas e do cilício.
Ainda hoje o sentido de recebermos as cinzas é o mesmo, refletirmos aquilo que somos diante de Deus, reconhecer n’Ele o nosso único Senhor, perceber que necessitados de conversão, nos arrependemos de nossos pecados. Atitudes que devem percorrer um longo período.
Mas antes de falar deste período gostaria de dizer que, no mesmo colégio dos jovens acima, outras duas jovens conversam sobre a festa que uma delas vai realizar daqui a um mês e meio, seu aniversário de 15 anos.
A que vai aniversariar é questionada pela amiga:
– E como estão os preparativos para sua grande festa, já que ela está tão próxima?
A jovem quem vai fazer os quinze anos responde:
– Está uma loucura, mas os convites estão prontos, o salão e o vestido estão alugados, bem como as outras coisas da festa preparadas. Agora é só ir contando os dias para a festa chegar. Não vejo a hora!
A Quaresma (entenda a minha metáfora) é um tempo de preparação para a grande festa que o cristão celebra todos os anos. A festa da Páscoa, festa da libertação, libertação da morte e a festa da vida nova em Cristo.
Como já disse, a Quarta-feira de Cinzas é o início do tempo quaresmal, um período que se estende até a Quinta-feira Santa, antes da Missa do Senhor (também conhecida como Missa dos lava-pés ou da Instituição da Eucaristia). Quaresma, que deriva da palavra “Quadragesimae”, é um período privilegiado de preparação de quarenta dias [para a Páscoa]. Na Igreja Antiga, este era o tempo no qual os catecúmenos (pessoas que se preparavam para receber o Batismo) participavam da primeira “parte da Santa Missa” (liturgia da Palavra) e se retiravam durante a liturgia Eucarística para receberem as últimas formações a respeito da vida cristã. Os catecúmenos deveriam entregar-se a uma catequese mais intensa e aos exercícios de oração e penitência. Pouco a pouco, todos os cristãos começaram a participar também deste clima, tanto para unir-se aos catecúmenos, como para renovar em si a graça de seu próprio batismo, preparando-se para a santa Páscoa, na qual, na Santa Missa da Páscoa, faziam esta renovação.
Este tempo de preparação exige recolhimento, mas também um sentimento de alegria, uma alegria que vamos ter que conter até a grande festa. É marcado por alguns sinais:
– A Liturgia se veste de roxo – sinal de sobriedade e conversão;
– Não se canta o “Glória” e o “Aleluia” na celebração das Santas Missas – ficam guardados em nossos corações para ser entoados com grande alegria no Sábado Santo;
– O uso dos instrumentos musicais deve ser moderado, mais comedido – sinal de interioridade.
Portanto, o período quaresmal é um tempo especial de preparação, tempo em que devemos nos abrir aos irmãos na prática do amor, tempo em que devemos nos aproximar mais de Deus, tempo em que devemos jejuar mais ou nos abster de algumas coisas em sinal de despojamento.
Convido você a se preparar para esta grande festa, a maior de todas as festas cristãs buscando a conversão de maneira mais concreta, com a ajuda das práticas quaresmais: oração, penitência e esmola.
Tempo de refletir os pecados e se renovar !!!!